Um grande rio corta a Região Noroeste da Índia, onde fica hoje o Paquistão. Seu nome é Indus e das suas margens partiu, expulso por invasores Árabes há quase 3 mil anos, um povo amante da música, das cores alegres e da magia. Esta, pelo menos, é a explicação dos estudiosos para a origem dos Ciganos. E o que a fundamenta é a grande semelhança do Romanês (ou Romani – idioma falado pelos Ciganos), com o Sânscrito (a língua clássica Indiana). O que não se sabe ainda é se esses eternos viajantes pertenciam a uma casta inferior dentro da Hierarquia Indiana (os parias) ou se eram orgulhosos Raiputs (uma casta aristocrática e militar). Independente de qual fosse o seu status, a partir do êxodo pelo Oriente, os Ciganos se dedicaram com exclusividade a Atividade de cavalos, saltimbancos, comerciantes de miudezas e praticantes das Artes Divinatórias. Por onde passaram, ganharam fama de um povo que tinha horror à agricultura. Viajavam sempre em grandes carroções coloridos e criaram nomes poéticos para si próprios, como exemplo: Filhos das Estrelas, Irmãos das Águas, Viajantes do Vento e Povo das Estradas, entre outros.
A Família é à base da organização social dos Ciganos. E não há hierarquia rígida no interior dos grupos. O comando normalmente é exercido pelo homem mais capaz, uma vez que os Ciganos respeitam acima de tudo a inteligência. Este homem é o KAKU e representa a tribo na KRISROMANI, uma espécie de tribunal Cigano formado pelos membros mais respeitados de cada comunidade, com a função de punir quem transgride a rígida ética Cigana. A figura feminina tem sua importância e é comum haver lideranças femininas como as PHURY-DAY (Matriarca) e as BIBI (Tias-conselheiras), sem falar que nenhum cigano deixa de consultar as avós, mães e tias para resolver problemas importantes por meio da leitura da sorte.
O Misticismo e a religiosidade, aliás, fazem parte de todos os hábitos da vida Cigana. Normalmente, assimilam as religiões do lugar onde se encontram, mais jamais deixam de lado o culto aos antepassados, o temor dos maus-olhados, a crença na reencarnação e nas forças do destino (BAJI), contra a qual não adianta lutar. Quase todos são devotos de Santa Sara, e aqui no Brasil, também a Nossa Senhora Aparecida. Todo Cigano venera um Deus, mas o Cigano não está preso a religião alguma, é, no entanto ligado à Magia.
Em geral são belos, morenos, dolicocéfalos, olhos grandes e vivos, roso ossudo, fronte estreita, nariz adunco, dentadura magnífica, andar vivo e irregular. Naturalmente elegantes, tem porte e majestade. Gesticulam em demasia. Ardentes e alegres, atingem grande longevidade. As mulheres são bonitas e graciosas, embora envelheçam precocemente devido à excessiva exposição do sol pela vida nômade. Mas usam enfeites, talco, pós de atração, perfume, mil saias e sabem fazer bem o amor.
Não há um traje Cigano, mas uma maneira Cigana de trajar. Apreciam as cores berrantes, os tecidos brilhantes, os brocados. As crianças andam nuas, muitas vezes. As mulheres vestem-se de cores vivas, com grandes saias rodadas, superpostas e lenços à cabeça. Usam os cabelos soltos ou em tranças, enfeitados de fitas ou moedinhas e exibem grandes variedades de jóias e fantasias, sobretudo brincos e pulseiras.
São em geral carnívoros e gostam de doces e frutas, gostam também do vinho, da cerveja e as aguardentes fortes. Homens e mulheres são dados ao fumo. Sua bebida é o SIFRIT.
O instrumento mais usado é o violino. Usam também pandeiros e castanholas.
Apesar das diferenças locais e dos regionalismos eles mantém viva ainda os traços fundamentais. O nomadismo permitiu a preservação dessa cultura diante dos ataques que sempre foram alvos. Na Idade Média eram queimados em fogueira. Embora todos tivessem sido nômade, é entre os ROM que se encontra hoje mais facilmente o nomadismo e em estado puro. Apreciam o ar livre e amam dormir à luz das estrelas, mesmo os sedentários. Habitam em tendas (ceras) de porta aberta para o sul ou na direção oposta ao vento ou em grandes carroças pintadas sobre rodas.
As cartas não mentem, porque entre elas, o consulente e a cartomante, estabelecem um poderoso campo magnético. Ainda que o consulente pretenda blefar, as suas energias profundas e a energia que emana das cartas favorecem um diálogo cabalístico que vai determinar a posição das lâminas durante o jogo e acima de tudo a grande força da intuição e a percepção da cartomante, dada pelos CIGANOS DO ORIENTE.
Os ciganos não representam um povo compacto e homogêneo, mesmo
pertencendo a uma única etnia, existe a hipótese de que a migração desde a Índia tenha sido fracionada no tempo, e que desde a origem fossem divididos em grupos e subgrupos, falando dialetos diferentes.
As diferenças no tipo de vida, a forte vocação ao nomadismo de alguns, contra a tendência à sedentarização de outros gera uma série de contrastes que não se limitam a uma simples incapacidade de conviver pacificamente.
Em linhas gerais, os Sintos são menos conservadores e tendem a esquecer com maior rapidez a cultura dos pais. Talvez este fato não seja recente, mas de qualquer modo é atribuído às condições socioculturais nas quais por longo tempo viveram.
Quanto aos Rom de imigração mais recente, se nota ao invés uma maior tendência à conservação das tradições, da língua e dos costumes próprios dos diversos subgrupos. Sua origem desde países essencialmente agrícolas e ainda industrialmente atrasados (leste europeu) favoreceu certamente a conservação de modos de vida mais consoantes à sua origem.
Não é possível, também em razão da variedade constituída pela presença conjunta de vários grupos, fornecer uma explicação detalhada das diversas tradições. Alguns aspectos principais, ligados aos momentos mais importantes da existência, merecem ser descritos, ao menos em linhas gerais.
Antigamente era muito respeitado o período da gravidez e o tempo sucessivo ao nascimento do herdeiro; havia o conceito da impureza coligada ao nascimento, com várias proibições para a parturiente. Hoje a situação não é mais tão rígida; o aleitamento dura muito tempo, às vezes se prolongando por alguns anos.
No casamento tende-se a escolher o cônjuge dentro do próprio grupo ou subgrupo, com notáveis vantagens econômicas. Um cigano pode casar-se com uma gadjí, isto é, uma mulher não cigana, a qual deverá porém submeter-se às regras e às tradições ciganas.
A importância do dote é fundamental especialmente para os Rom; no grupo dos Sintos se tende a realizar o casamento através da fuga e conseqüente regularização. Aos filhos é dada uma grande liberdade, mesmo porque logo deverão contribuir com o sustento da família e com o cuidado dos menores.
No que se refere à morte, o luto pelo desaparecimento de um companheiro dura em geral muito tempo. Junto aos Sintos parece prevalecer o costume de queimar-se a kampína (o trailer) e os objetos pertencentes ao defunto.
Entre os ritos fúnebres praticados pelos Rom está a pomána, banquete fúnebre no qual se celebra o aniversário da morte de uma pessoa. A abundância do alimento e das bebidas exprimem o desejo de paz e felicidade para o defunto
NASCIMENTO
Uma criança sempre é bem vinda entre os ciganos. É claro que sua preferência é para os filhos homens, para dar continuidade ao nome da família. A mulher cigana é considerada impura durante os quarenta dias de resguardo após o parto.
Logo que uma criança nasce, uma pessoa mais velha, ou da família, prepara um pão feito em casa, semelhante a uma hóstia e um vinho para oferecer ás três fadas do destino, que visitarão a criança no terceiro dia, para designar sua sorte. Esse pão e vinho será repartido no dia seguinte com todos as pessoas presentes, principalmente com as crianças.
Da mesma forma e com a finalidade de espantar os maus espíritos, a criança recebe um patuá assinalado com uma cruz bordada ou desenhada contendo incenso. O batismo pode ser feito por qualquer pessoa do grupo e consiste em dar o nome e benzer a criança com água, sal e um galho verde. O batismo na igreja não é obrigatório, embora a maioria opte pelo batismo católico.
CASAMENTO
Desde pequenas, as meninas ciganas costumam ser prometidas em casamento. Os acertos normalmente são feitos pelos pais dos noivos, que decidem unir suas famílias.
O casamento é uma das tradições mais preservadas entre os ciganos, representa a continuidade da raça, por isso o casamento com os não ciganos não é permitido em hipótese alguma. Quando isso acontece a pessoa é excluída do grupo.
É pelo casamento que os ciganos entram no mundo dos adultos. Os noivos não podem Ter nenhum tipo de intimidade antes do casamento. Quando o casamento acontece, durante três dias e três noites, os noivos ficam separados dando atenção aos convidados, somente na terceira noite é que podem ficar pela primeira vez a sós.
Mesmo assim, a grande maioria dos ciganos no Brasil, ainda exigem a virgindade da noiva. A noiva deve comprovar a virgindade através da mancha de sangue do lençol que é mostrada a todos no dia seguinte. Caso a noiva não seja virgem, ela pode ser devolvida para os pais e esses terão que pagar uma indenização para os pais do noivo.
No caso da noiva ser virgem, na manhã seguinte do casamento ela se veste com uma roupa tradicional colorida e um lenço na cabeça, simbolizando que é uma mulher casada. Durante a festa de casamento, os convidados homens, sentam ao redor de uma mesa no chão e com um pão grande sem miolo, recebem dos os presentes dos noivos em dinheiro ou em ouro.
Estes são colocados dentro do pão ao mesmo tempo em que os noivos são abençoados. Em troca recebem lenços e flores artificiais para a mulheres. Geralmente a noiva é paga aos pais em moedas de ouro, a quantidade é definida pelo pai da noiva.
MÚSICA E DANÇA
Quando os ciganos deixaram o Egito e a Índia, eles passaram pela Pérsia, Turquia, Armênia, chegando até a Grécia, onde permaneceram por vários séculos antes de se espalharem pelo resto da Europa.
A influência trazida do oriente é muito forte na música e na dança cigana. A música e a dança cigana possuem influência hindu, húngaro, russo, árabe e espanhol. Mas a maior influência na música e na dança cigana dos últimos séculos é sem dúvida espanhola, refletida no ritmo dos ciganos espanhóis que criaram um novo estilo baseado no flamenco.
Alguns grupos de ciganos no Brasil conservam a tradicional música e dança cigana húngara, um reflexo da música do leste europeu com toda influência do violino, que é o mais tradicional símbolo da música cigana. Liszt e Beethoven buscaram na música cigana inspiração para muitas de suas obras.
Tanto a música como a dança cigana sempre exerceram fascínio sobre grandes compositores, pintores e cineastas. Há exemplos na literatura, na poesia e na música de Bizet, Manuel de Falla e Carlos Saura que mostram nas suas obras muito do mistério que envolve a arte, a cultura e a trajetória desse povo.
No Brasil, a música mais tocada e dançada pelos ciganos é a música Kaldarash, própria para dançar com acompanhamento de ritmo das mãos e dos pés e sons emitidos sem significação para efeito de acompanhamento. Essa música é repetida várias vezes enquanto as moças ciganas dançam.
MORTE
Os ciganos acreditam na vida após a morte e seguem todos os rituais para aliviar a dor de seus antepassados que partiram. Costumam colocar no caixão da pessoa morta uma moeda para que ela possa pagar o canoeiro a travessia do grande rio que separa a vida da morte.
Antigamente costumava-se enterrar as pessoas com bens de maior valor, mas devido ao grande número de violação de túmulos este costume teve que ser mudado. Os ciganos não encomendam missa para seus entes queridos, mas oferecem uma cerimônia com água, flores, frutas e suas comidas prediletas, onde esperam que a alma da pessoa falecida compartilhe a cerimônia e se liberte gradativamente das coisas da Terra.
As cerimônias fúnebres são chamadas "Pomana" e são feitas periodicamente até completar um ano de morte. Os ciganos costumam fazer oferendas aos seus antepassados também nos túmulos.
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